sábado, 16 de agosto de 2008

O primeiro branco a ver o Pacífico: o grande mar do Sul

Vasco Nuñez Balboa: o descobridor do Pacífico

Nunca um clandestino acabou por ser tão desejado como Vasco Nuñez Balboa. Quando, num dia de Outono de 1510, embarcou com o seu fiel cão Leoncico dentro de uma barrica de farinha rumo à colónia de São Sebastião, no golfo de Urabá, junto ao actual Panamá, Balboa estava longe de imaginar que iria ser o primeiro homem branco a contemplar o oceano Pacífico. Efectivamente, quando saiu do seu refúgio, já no alto mar, foram os seus reconhecidos dotes no manejo da espada - muito preciosos para combater as tribos índias hostis - que obstaram a que Martín Enciso, o chefe da expedição, o largasse numa ilha deserta. Outro aspecto que pesou na decisão foi o facto de Balboa já conhecer a região, uma vez que estivera, anos antes, próximo da orla panamiana.
Dizem que Vasco Nuñez Balboa nasceu no ano de 1475 em Jerez de los Caballeros, na Estremadura espanhola. Pertencia a uma família de origem galega que em tempos tinha sido rica mas, em meados do século XV, entrara em acentuada decadência. Recebeu uma educação própria da sua condição social: ingressou como pajem de Pedro Portocarrero, senhor de Monguer, formando-se como escudeiro.
Porém, naquela época chegavam todos os dias à Península relatos do Novo Mundo, das suas riquezas e dos seus tesouros. Deste modo, o jovem Vasco Nuñez, então com 26 anos, não hesitou e embarcou rumo às Índias Ocidentais na expedição de Rodrigo de Bastidas, com a qual percorreu parte da costa do Caribe. Se bem que o seu papel na empresa de Bastidas não tenha sobressaído particularmente, a experiência aí adquirida iria revelar-se de grande utilidade no futuro.
A armada de Bastidas regressou a casa mas Balboa permaneceu em Santo Domingo, na ilha Hispaniola. Aqui, dedica-se à suinicultura, mas o mais que consegue é uma crescente acumulação de dívidas. Os anos seguintes passa-os a ludibriar os credores. Em 1510, encontra a solução para os seus problemas financeiros: embarca clandestinamente na nave de Martín de Enciso com destino ao golfo de Urabá, naquilo que hoje fica entre o Panamá e a Colômbia. A expedição tinha como objectivo reforçar o número de colonos e de mantimentos de São Sebastião, uma colónia recentemente fundada pelos espanhóis na costa panamiana.
Mas tudo parece correr mal a Enciso: o navio principal naufraga numa zona de baixios à entrada do golfo de Urabá e, embora os tripulantes se tivessem salvo, os mantimentos perdem-se; o forte de S. Sebastião encontrava-se completamente arrasado pelos índios que, com setas envenenadas, tinham matado praticamente todos os europeus. Face a este cenário de devastação, Enciso não tem outro remédio senão escutar a voz da experiência. Balboa já tinha estado na região anos antes e lembrava-se que havia um assentamento indígena rodeado de férteis campos agrícolas do outro lado do golfo junto ao rio Tanela. Sabia também que aqueles índios não utilizavam o veneno como arma de arremesso, por isso sugeriu a mudança da colónia para esse local aprazível. Apesar de existir a possibilidade de se entrar em litígio com Diego de Nicuesa, a quem cabia a jurisdição daquele território, a proposta foi aceite. Quando as pequenas embarcações arribaram à colónia autóctone e verificaram que tudo o que Vasco Nuñez lhes tinham assegurado era verdade, renderam-se à sua chefia.
Balboa e o rei de Careta
A aldeia foi rapidamente tomada pelos europeus. As armas de fogo e os cães fizeram a diferença. Deste modo, em Novembro de 1510, estava fundada Santa Maria de Antígua de Darién, a primeira povoação continental espanhola no Novo Mundo. Com o correr do tempo, as desavenças entre Enciso e Balboa foram-se acentuando até à ruptura total, quando os colonos, por votação, elegeram Balboa como seu chefe. Enciso foi literalmente banido da colónia.
Vasco Nuñez estava agora sozinho à frente do governo da colónia, mas, involuntariamente, enviaria para junto da corte o pior dos seus inimigos. As relações com os ín­ dios da região encontravam-se extraordinariamente tensas desde os tempos do governador Ojeda, que tinha massacrado diversas tribos. Havia que voltar a conquistar a confiança dos chefes. Durante dois anos Balboa empreendeu um excelente trabalho de aproximação à população local.
Ajudava-os na construção de casas, técnica onde os europeus estavam mais avançados; oferecia-lhes produtos que nunca tinham visto; falava-lhes do seu Deus infinitamente bom e misericordioso, tendo inclusivamente convertido alguns deles à fé cristã. O êxito da sua ofensiva diplomática foi tão grande que Xima, o rei de Careta, ofereceu-lhe ouro e terras se este o ajudasse a derrotar a tribo Ponca, sua ancestral inimiga. Balboa aceitou de bom grado. Os nativos, assim que souberam da investida, dispersaram-se e os espanhóis entraram sem dificuldade na aldeia da tribo Ponca. Com a ânsia de escapar aos "barbudos das armas de fogo", os fugitivos deixaram para trás praticamente todo o ouro.
O reconhecimento da conquista foi tal que, além das promessas, o chefe Xima decidiu apresentar Balboa a Comogre, líder de outro reino próspero mais a norte. Aqui os europeus foram banqueteados com uma magnífica refeição e ... mulheres, muitas mulheres. A intimidade foi tão grande que até puderam contemplar a sagrada Sala dos Antepassados onde, do tecto do templo, pendiam cadáveres mumificados dos antigos chefes.
Os rostos encontravam-se cobertos de enormes máscaras de ouro e das peças de vestuário brilhavam pérolas magníficas. O filho do chefe Comogre, sentindo a cobiça dos espanhóis por tais riquezas, indicou-lhes um grande mar para lá das montanhas a sul, onde havia ouro e as praias se achavam cobertas de pérolas. Era, certamente, o grande mar do Sul de que muito se falava, mas que nenhum branco havia ainda alcançado. Do primogénito do chefe recolheram outra informação: o caminho revelava-se prenhe de armadilhas, desde tribos canibais até densos matos praticamente intransponíveis. Balboa, embora estivesse disposto a alcançar o que, aparente­ mente, era inacessível, regressou a Darién para preparar a expedição.
O Pacífico diante dos olhos
Em Janeiro de 1512, o estremenho solicitou ao rei o envio de embarcações e homens para a duríssima empresa. A resposta tardava. Balboa só um ano depois teve a notícia de que os seus emissários nunca haviam chegado ao destino: a nave fora traga­ da por uma tempestade em pleno Atlântico. Mas, apesar da falta de auxílio, deitou mãos à obra e iniciou as explorações no território. Rumando a sul, descobriu o rio Atrato, que subiu e explorou, ao mesmo tempo que submetia pela força as diversas tribos nativas. Ao cabo de sete meses de explorações, 30 espanhóis tinham sucumbido de fome, sede, e, sobretudo, de pestes.
Concluída a jornada de exploração, Balboa resolve enviar uma nova delegação a Castela, informando o monarca que havia arrebatado para a coroa espanhola a província de Urabá. Na missiva voltava a solicitar reforços para a empresa ao grande mar do Sul. A resposta foi contudo negativa. O mais que conseguiu foi que o rei Fernando o nomeasse, provisoriamente, governador da colónia de Darién. Balboa conhecia bem o ambiente de intrigas que rodeavam a corte, por isso apressou a partida. Assim, no dia 1 de Setembro de 1513, acompanhado de 1000 homens (entre indígenas e espanhóis) e distribuídos por dez canoas, iniciou a grande viagem.
O ponto de partida escolhido foi Careta, nos domínios do seu velho amigo Xima. Desde aqui, a expedição alcançou facilmente território do chefe Ponca, já bem conhecido de Balboa. Faltava a etapa mais dura da viagem: os 70 quilómetros de montanhas extraordinariamente agrestes, com mato tão denso onde não penetrava sequer um raio de sol. A selva era de tal modo compacta que por vezes preferiram atravessar os rios a nado. Pelo meio havia que resistir a perigosas investidas de tribos canibais. Nada que as armas de fogo não resolvessem.
Finalmente, na manhã de 25 de Setembro de 1513 avistaram um elevado morro. Informado pelos índios que para além dele se espraiava o tal oceano, Balboa fez sinal para a caravana parar. Pegou no seu fiel cão Leoncico e galgou a encosta. No cume, um gigantesco mar azul cristalino brilhava tanto como os seus atónitos olhos. Se há momentos em que as palavras não podem expressar os verdadeiros sentimentos. este foi seguramente um deles. A História conta que Balboa desceu pelas faldas da montanha e penetrou no mar berrando e agitando a bandeira de Castela e Aragão. Fora o primeiro europeu a ver o Pacífico.
Contudo, a sorte, desta vez, não protegeu os audazes. Vítima de tremendas intrigas de Pedrarias Dávila, o novo governa­ dor entretanto nomeado pelo rei, Balboa acabou por ser condenado à morte por alta traição. Foi decapitado em plena praça pública de Acla, no dia 15 de Janeiro de 1519, perante os infrutíferos e desesperados apelos de clemência dos índios.

fonte: http://km-stressnet.blogspot.com/2008/03/vasco-nuez-balboa-o-descobridor-do.html

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